quarta-feira, 8 de abril de 2009

Querido Tu,

Já tentei de tantas maneiras, formas e feitios escrever-te uma carta e foram todas elas tentativas em vão. Ao sabor de The Police - Every Breath You Take, as palavras engasgam-se, atropelam-se.
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Sempre adoraste aventuras e eu, sempre adorei acompanhar as tuas passadas. Sem mais nem menos, sem mas nem meio mas, proferias Vamos seguir o horizonte. Entrávamos todos no carro empolgados e seguíamos viagem. Vamos para onde?Para onde o destino nos levar. Sempre soubeste usar bem as palavras, sempre te saíram puras, límpidas. Recordo-me que o meu destino predilecto era areia, Sol e mar, tal como o teu. Entravas praia fora com o carro, alinhando-o com a nossa Estrela. Foram tantas as vezes que observámos o pôr-do-Sol. Tantas as vezes que o vimos desaparecer tão perto de nós...
Quando o azul escuro tingia o Céu, entrávamos no carro e regressávamos a casa. Deitava-me no banco de trás do nosso caro, completamente estendida. A ponta dos meus pés tocava o outro lado do banco e os meus olhos espelhavam o Céu estrelado que nos envolvia. Lembro-me que por volta das dez da noite ligavas o rádio na RFM, adivinhando a música que se seguiria. Every smile you fake, every claim you stake, I'll be watching you - sussuravas baixinho. Não percebia o que sismavas tão sorrateiramente, mas o sorriso que a seguir me mostravas... Esclarecia tudo. Quando os quatro minutos e treze segundos de um sossego inconcebível terminavam, os olhos caíam e eu nunca tive a coragem de os segurar. Hoje arrependo-me, só por saber que se os tivesse mantido impunes tinha tido o privilégio de te observar, mais algum tempo, com o papel que possuías na minha vida.
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Existe tanto por e para dizer, que vou ficando sem fôlego conforme os dedos vão escorregando da caneta, já cansados. Eu continuo e deixo a mão livre, livre de si mesma. Livro-me do peso que ficou acorrentado aos sentimentos e deixo a caneta dançar sobre o papel. Escrevo cada vez mais rápido, com a pressa de não deixar o pensamento para trás. As imagens do Passado que construímos juntos assombram-me a mente, enquanto tento libertar os meus fantasmas. O olhar incendeia-se, o pensamento bloqueia, os dedos caem como se o Outono aparecesse instantâneamente, as minhas cordas vocais desaparecem e o corpo cai infame. Respiro fundo e seguro o papel à procura de respostas para todos estes sintomas. Decido, então, terminar a carta que te escrevi. Só que a tinta esgota-se quando me vou despedir com um Amo-te e o papel onde tantas palavras foram embebidas, permanece branco.

1 comentário:

  1. «As imagens do Passado que construímos juntos assombram-me a mente, enquanto tento libertar os meus fantasmas. O olhar incendeia-se, o pensamento bloqueia, os dedos caem como se o Outono aparecesse instantâneamente, as minhas cordas vocais desaparecem e o corpo cai infame.»

    A forma como escreves é admiravel, esta não foi sem duvida uma tentativa falhada.

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