quarta-feira, 13 de maio de 2009

Descrição de uma realidade suprema

Entro por entre corredores profundos, quase infindáveis. Nas paredes consigo observar a história e as lágrimas derramadas por corpos que nunca conheci o nome. É uma mistura de raças, personalidades, cheiros e pessoas. É uma mistura de emoções, vivências e amor aos mais que nos significam a vida. É uma luta sem qualquer batalha, um milagre sem qualquer aparição. São heróis que não têm receio de oferecer a sua vida aos outros. E agora, mais que nunca, anseio um dia puder vestir a pele desses heróis.
Subo as escadas cinzentas de tanta mágoa, desgastadas de tantas almas débeis que as calcaram. Agarro-me ao corrimão para arranjar forças, sem saber como. A mão direita vai escorregando pelo aço inoxidável, transbordando as lágrimas que por respeito ousei omitir. Continuo a subir, rastejando interiormente, pelos degraus cada vez mais altos e sombrios. Novamente um corredor intenso recheado de portas em que algumas, por vezes, só permitem a entrada. Entro num cubículo, mais frio que a própria palavra. Sento-me num sofá castanho antiquado. Levo as mãos à cabeça e inclino o corpo à frente, em sinal de dor. Penso na quantidade de pessoas que ali esteve, sentada no mesmo sítio que eu, reflectindo sobre o mesmo assunto que eu. Na quantidade de pessoas que arrancou o seu coração e o sentou ao seu lado, naquele sofá castanho e antiquado. Na quantidade de pessoas que cerrou as mãos com força, na tentativa de segurar as lágrimas, tal como eu. Nunca antes tinha sentido tão temeroso respeito por uma sala tão pequena, com uma dimensão tão vasta.
Sinto-me inútil e não sei bem o que estou a pensar. Sinto-me um pequeno nada no meio de tanta complexidade que é superior a qualquer outro ser. Levanto-me do sofá castanho e antiquado e regresso ao corredor intenso, que enumerei anteriormente. Passam por mim batas brancas por todas as direcções e sentidos. Não faço questão de levantar os olhos para observar as rugas que marcam os seus dias agitados e misteriosos. Encosto-me à parede e penso no quão frágeis nós somos. No quão míseros são os nossos desejos materiais, comparativamente ao corpo que nos comanda. No quão ignorantes somos, por ainda nos julgarmos donos de nós próprios.
Regresso à vastidão da sala, onde deixei pendurados os meus ignotos pensamentos. Percebo agora a diferença existente na duração tempo. Por vezes corre tão rápido, que nos escorrega pela ponta dos dedos e quando reparamos, já é tarde demais. Outras vezes pára, isento de qualquer ordem, correndo-nos pelo sangue durante momentos aparantemente eternos. E agora encontro-me a dez passos do local que agora podes chamar casa, apesar de me sentir igualmente longe como se nunca te tivesse visto.
O relógio não perdoa o tempo e a hora é marcada por dois ponteiros severos e rigorosos. Abandono o vazio onde deixei falar os meus pensamentos e retorno o caminho, de novo, ao mundo real.

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